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Centro de Informação em Saúde para Viajantes

Doença da altitude
Versão: 21/05/2006, 09:47 h
Terezinha Marta P.P. Castiñeiras, Luciana G. F. Pedro & Fernando S. V. Martins

Doença da altitude é um termo geral utilizado para descrever o acometimento pulmonar e cerebral que pode ocorrer em alguns indivíduos que viajam para regiões muito elevadas em relação ao nível do mar. A doença da altitude tem um amplo espectro clínico, podendo variar de transtornos leves ("mal da montanha") a quadros potencialmente fatais de edema cerebral ou pulmonar. A ocorrência da doença depende primariamente da altitude e não do modo como a pessoa chegou ao local (de avião, escalando etc) e nem do seu preparo físico.

Riscos

A doença da altitude pode afetar qualquer pessoa (não há como prever qual), incluindo as saudáveis e os atletas fisicamente bem preparados, mas as conseqüências tendem a ser mais graves em crianças e naqueles com condições como gravidez ou  doenças de base (cardíacas, pulmonares, anemia, traço falcêmico etc). As manifestações podem surgir acima de 1500 metros, mas são mais freqüentes em altitudes superiores a 2500 metros. As gestantes devem evitar os locais com altitude superiores a 3600 metros.

A
doença da altitude resulta do deslocamento mais rápido para locais muito elevados em relação ao nível do mar do que a capacidade de adaptação do indivíduo. O principal fator desencadeante é a baixa oxigenação dos tecidos do corpo, decorrente da incapacidade de compensar fisiologicamente a baixa concentração de oxigênio do ar inspirado. Os indivíduos com antecedentes de doença da altitude tem maior risco de voltar a desenvolver as mesmas manifestações. Em altitudes muito elevadas, as pessoas que foram submetidas à ceratotomia radial (procedimento cirúrgico pouco utilizado atualmente) para correção de distúrbios visuais podem apresentar dificuldade (visão embaçada), principalmente, para ver objetos de perto (hipermetropia aguda). Os procedimentos atuais (cirurgias a laser) não estão relacionados com  problemas visuais em altitude elevadas.

DESENVOLVER: altitude e turismo (Everest, Kilimanjaro etc)

O ar atmosférico tem em sua composição 21% de oxigênio. A pressão atmosférica, ao nível do mar, é de 760 mmHg (milímetros de mercúrio), o que corresponde a uma pressão parcial de oxigênio de 159,6 mmHg (21% de 760). A disponibilidade do oxigênio depende de sua pressão parcial na atmosfera. Como a pressão atmosférica diminui à medida que a altitude se eleva, a pressão parcial (e a disponibilidade) do oxigênio também se reduz proporcionalmente. Em um local com 2500 metros de altitude, a pressão atmosférica é de 544 mmHg e a pressão parcial do oxigênio é de 114,4 mmHg (21% de 544) e neste ambiente existe apenas 71% do oxigênio disponível ao nível do mar.

O oxigênio é um elemento fundamental para o funcionamento do corpo humano, uma vez que fornece energia responsável pela manutenção das funções celulares. Durante a inspiração, o oxigênio contido no ar atmosférico é transportado pelas vias aéreas até os pulmões onde é absorvido e, durante a expiração, o gás carbônico é eliminado. O sangue efetua o transporte do oxigênio - ligado à hemoglobina contida nas hemácias - até os tecidos, onde este é trocado pelo gás carbônico produzido pelo metabolismo celular e que precisa ser eliminado pelos pulmões. O sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos) é a via efetora da circulação sanguínea. O coração (esquerdo) bombeia o sangue proveniente dos pulmões (rico em oxigênio) através das artérias para todos os tecidos do corpo. O sangue, então, retorna (rico em gás carbônico) ao coração (direito) por intermédio das veias e é impulsionado até os pulmões, onde ocorre a troca gasosa (gás carbônico por oxigênio). O nível de oxigênio no sangue é detectado por sensores situados no cérebro. Quando a concentração fica reduzida, os sensores comandam um aumento da freqüência respiratória (taquipnéia) e da freqüência cardíaca (taquicardia) para compensar a redução da oxigenação, gerando a sensação de “falta de ar”. O aparecimento das manifestações da doença da altitude, resultantes da baixa oxigenação tecidual, está relacionado com a velocidade de subida, a altitude máxima atingida e características fisiológicas individuais (por exemplo, a capacidade de hiperventilar).

O ambiente nas altitudes elevadas, com níveis baixos de umidade relativa do ar, de pressão atmosférica e de oxigênio, favorece a desidratação, o que resulta em diminuição do volume plasmático (parte líquida do sangue) e, consequentemente, aumento da viscosidade do sangue. DESENVOLVER (relação com a doença da altitude, necrose de extremidades etc).  Graus extremos de desidratação podem levara à morte. Além disto, as altitudes muito elevadas estão relacionadas com riscos relacionados a baixas temperaturas (hipotermia, gangrena) e, notadamente nas montanhas recobertas por neve, aos devidos à exposição a uma quantidade maior de radiações ultravioleta (queimaduras solares, "cegueira da neve").

Medidas de prevenção

O risco de doença da altitude pode ser reduzido através de aclimatação adequada, que incluiu a subida de forma lenta e gradual e
com paradas para pernoite em altitude sempre inferior à que foi atingida durante o dia. Nas escaladas a velocidade ideal de ascensão é individual, mas acima de 3000 metros a diferença recomendada entre os acampamentos noturnos é de 300 metros, não devendo ultrapassar 600 metros. Quando o deslocamento para locais de altitude elevada é feito rapidamente (como nas viagens de avião ou de carro) e em situações onde não seja possível uma programação adequada de aclimatação ou se o viajante já tiver uma predisposição conhecida, o uso de medicamentos (acetazolamida, dexametasona, nifedipina) pode estar indicado para profilaxia ou tratamento da doença da altitude. A acetazolamida, utilizada na profilaxia, é um diurético e pode acentuar a tendência à desidratação.

O viajante que se dirige para áreas com altitude elevada deve ser capaz de reconhecer as manifestações iniciais da
doença da altitude (dor de cabeça, cansaço etc) e ter em mente que não deve continuar a subida até a melhora do quadro. O preparo físico, per se, não é um fator protetor. As escaladas em grupo parecem aumentar o risco da doença da altitude resultar em mortes. Isto pode ocorrer em razão da pressão do grupo para que sejam cumpridos itinerários em prazos pré-determinados, o que pode levar a pessoa a ocultar e tentar superar as manifestações da doença da altitude.

É importante que, ao apresentar as manifestações iniciais da doença da altitude (dor de cabeça, cansaço etc), o indivíduo não prossiga a escalada até que os manifestações desapareçam. Não havendo melhora, ou se ocorrer agravamento das manifestações, o viajante deverá descer- mesmo que seja à noite - o mais rapidamente possível para uma altitude, no mínimo, 500 metros inferior. Se qualquer manifestação indicativa de edema cerebral (perda da coordenação dos movimentos, diminuição do nível de consciência etc) ou de edema pulmonar (cansaço excessivo, falta de ar, tosse seca etc) surgir, o viajante deve descer imediatamente. O uso de oxigênio suplementar pode ser útil no tratamento das manifestações da doença da altitude. Adicionalmente, pode estar indicado a utilização de medicamentos como acetazolamida, dexametasona  e nifedipina. Em qualquer circunstância, o viajante com a doença da altitude deve ser acompanhado na descida por, pelo menos, uma pessoa em boas condições físicas.

Não havendo possibilidade de descida imediata, o viajante com qualquer manifestação indicativa de
edema cerebral ou de edema pulmonar deve ser colocado em uma câmara hiperbárica portátil (Gamow®, Certec®, PAC®), que podem ser hermeticamente fechadas e infladas com uma bomba de pé. As câmaras, após serem pressurizadas, podem produzir, dependendo da altitude real, uma atmosfera equivalente a existente a cerca 1500 - 1800m. A utilização de oxigênio suplementar, juntamente com a câmara hiperbárica, pode ser útil. Quando as condições do viajante com a doença da altitude permitirem, a descida deve ser iniciada com o mínimo de esforço físico possível e, preferencialmente, com o uso de oxigênio suplementar.

Medidas de proteção

Manifestações

A apresentação clínica mais comum da doença da altitude é o "mal da montanha", que é caracterizado pelo aparecimento de dor de cabeça de intensidade variável que pode ou não estar associada à perda do apetite, náuseas, vômitos, cansaço, tonteira e alteração do sono. As manifestações iniciais geralmente surgem 6 a 12 horas após a chegada em regiões com altitudes elevadas. Se não forem reconhecidas e as medidas adequadas não forem adotadas, a doença pode evoluir para edema cerebral, que é uma condição grave e potencialmente fatal. As crianças tem suscetibilidade à doença da altitude semelhante a dos adultos e podem apresentar manifestações iniciais não características, como irritabilidade e perda de apetite.

O edema cerebral é uma progressão das manifestações iniciais da da doença da altitude. É uma condição grave, caracterizada pela perda da coordenação dos movimentos (com alteração da marcha) e diminuição do nível de consciência, podendo evoluir para coma e, em seqüência, ocasionar a morte. Quando apresentar qualquer manifestação indicativa de edema cerebral, o viajante deve ser levado imediatamente para uma altitude mais baixa, sem fazer muito esforço físico e utilizando oxigênio. Se a descida imediata não for possível, deve ser usada uma câmara hiperbárica portátil ou, caso não não esteja disponível, de oxigênio suplementar. Além disto, pode ser necessário o uso se medicamentos (acetazolamida, dexametasona).

O edema pulmonar é uma outra forma de manifestação da doença da altitude, que geralmente ocorre 2 a 4 dias após a chegada em regiões com altitudes elevadas. O edema pulmonar pode ocorrer isoladamente ou em associação com o edema cerebral. As manifestações iniciais edema pulmonar são cansaço excessivo, falta de ar e tosse seca que progride para expectoração sanguinolenta. O sucesso no tratamento depende do reconhecimento rápido do quadro e início precoce das medidas de suporte. O viajante deve ser levado imediatamente para uma região de menor altitude, fazendo o mínimo de  esforço físico e utilizando oxigênio. Caso a descida imediata não seja possível, deve ser utilizada uma câmara hiperbárica portátil ou, se não disponível, oxigênio suplementar. Adicionalmente, pode ser necessária a administração de medicamentos (nifedipina).

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