Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Centro de Informação em Saúde para Viajantes


Barotrauma de ouvido médio

Fernando S. V. Martins 

A pressão no ouvido médio*, em condições habituais, é idêntica à pressão atmosférica do ambiente. Quando estas pressões tornam-se desiguais, pode ocorrer o barotrauma de ouvido médio. As manifestações mais comuns são sensação de plenitude ("enchimento") e dor no ouvido. A "dor de ouvido" é um dos problemas médicos mais freqüentes nas viagens de avião. É mais comum em crianças e na presença de condições como infecções das vias aéreas superiores ou alergias.

Riscos

O ouvido médio é separado do ambiente pela membrana timpânica e comunica-se com a nasofaringe (e com o ambiente), através da  trompa de Eustáquio (ou tubo auditivo). A pressão existente no ouvido médio, em geral, é idêntica à do ambiente. A trompa de Eustáquio, em condições habituais, funciona como uma válvula unidirecional. Quando a pressão no ouvido médio aumenta, a trompa de Eustáquio permite passivamente a saída do ar. No entanto, se a pressão no ouvido médio diminui, a trompa comumente não permite a entrada do ar, a não ser que a sua abertura seja ativamente promovida. Quando, por qualquer motivo, a pressão do ar no ouvido médio torna-se maior ou, mais comumente, menor do que a existente no ambiente e a trompa de Eustáquio não permite a passagem do ar para que ocorra o equilíbrio, pode ocorrer o barotrauma. O barotrauma de ouvido médio pode ocorrer em viagens aéreas, durante atividades aquáticas de mergulho e nas viagens para locais montanhosos, em razão do aumento da pressão do ambiente, em geral durante as descidas quando muito rápidas.

As aeronaves a jato, em geral, voam a uma altitude de cruzeiro entre 9.000 e 11.000 metros, com uma pressurização interna de 544 mmHg, que é equivalente à pressão atmosférica de um local com cerca de 2500 metros de altitude. Neste ambiente, além da pressão reduzida, existe apenas 71% do oxigênio disponível em um local no nível do mar e a umidade relativa do ar é baixa, o que facilita a desidratação e o ressecamento das secreções respiratórias. Durante a subida do avião, à medida que a altitude aumenta (e a pressão atmosférica diminui), o ar presente no ouvido médio se expande e, habitualmente, escapa através da trompa de Eustáquio, igualando a pressão com a do ambiente. Durante a descida, à proporção que a altitude diminui (e a pressão atmosférica aumenta), o volume do ar existente no ouvido médio vai sendo reduzido, criando uma pressão negativa (vácuo parcial) em relação ao ambiente. Nestas circunstâncias, comumente, a trompa de Eustáquio não permite passivamente a entrada de ar para o ouvido médio, o que faria com que a pressão fosse igualada (equalização) com a do ambiente e pode ocorrer o barotrauma

barotrauma de ouvido médio, que causa a barotite média, ocorre mais freqüentemente durante os procedimentos de aterrissagem e pode ser uni ou bilateral. É mais comum na presença de condições que dificultem a abertura do tubo auditivo, como infecções (resfriado, gripe otite, faringite etc) ou alergias e em crianças, uma vez que as trompas de Eustáquio tem um diâmetro menor do que a dos adultos.

Medidas de proteção

O risco de barotrauma de ouvido médio pode ser reduzido através de manobras que promovam ativamente a abertura da trompa de Eustáquio. Por este motivo, é importante que o viajante permanecer acordado durante os procedimentos de decolagem e pouso da aeronave. A abertura da trompa de Eustáquio pode ser facilitada através da mobilização dos músculos da mastigação e deglutição ou do aumento forçado suave da pressão da nasofaringe.

Manifestações

O barotrauma pode ocorrer apenas em um dos ouvidos ou ser bilateral. As manifestações mais comuns da barotite média (uma forma de otite média serosa, não infecciosa) são a dor, sensação de plenitude ("enchimento") no ouvido e alguma diminuição da capacidade auditiva. Nos casos mais graves, a dor de ouvido é muito intensa, pode ocorrer vertigens e perfuração do tímpano, extravasamento de líquido seroso ou de sangue através do canal auditivo e surdez temporária.

Na maioria das vezes, as manifestações do barotrauma de ouvido médio duram até a aterrissagem completa da aeronave ou desaparecem logo depois. Em algumas pessoas o desconforto no ouvido pode permanecer por algumas horas ou, mais raramente, por dias ou semanas. Se não houver desaparecimento das manifestações em algumas horas, quando a dor for muito intensa, ocorrerem vertigens, surdez ou extravasamento de líquido seroso ou de sangue pelo canal auditivo (perfuração do tímpano) e, em qualquer circunstância, se o viajante desenvolver febre (indicativo de infecção), um médico deve ser imediatamente procurado.

Diponível em 21/07/2006, 11:07 h.

* O Cives utiliza o termo ouvido para órgão auditivo como um todo e orelha para o pavilhão auricular.

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