Amebíase
intestinal
A
amebíase
intestinal é uma doença infecciosa de
transmissão
oral-fecal, causada por um
protozoário – a
Entamoeba
histolytica. A
amebíase
é uma doença de
distribuição mundial, com maior prevalência em
países em desenvolvimento, onde a estrutura de
saneamento básica não é adequada. A doença
é mais grave em crianças pequenas, gestantes,
desnutridos e indivíduos em uso de corticóides em doses
altas.
Transmissão
Existem
várias espécies de amebas (
Endolimax
nana, Entamoeba coli, Entamoeba
díspar, Entamoeba gingivalis, Entamoeba
hartmanni, Entamoeba
moshkovskii, Entamoeba polecki e Iodamoeba
butschlii) capazes infectar os seres humanos,
entretanto, a única com potencial patogênico (capaz de
causar doença) é a
E.
histolytica. O ser humano é
o único hospedeiro da
E.
histolytica. A transmissão ocorre, em geral,
através da
ingestão de
água e alimentos contaminados com material fecal contendo os
cistos. No intestino delgado,
ocorre a ruptura dos
cistos
com a liberação dos
trofozoítas
(formas infectantes) para a luz intestinal. Os
trofozoítas têm a
capacidade de se ligar à mucosa do
intestino grosso através de receptores específicos e
provocar lesão tecidual.
Posteriormente, a maior parte (??) dos
trofozoítas
é
novamente
encistada e os
cistos são liberados junto
com as fezes. Pode ocorrer também a eliminação de
trofozoítas,
principalmente em fezes diarréicas. Os
cistos podem
permanecer viáveis em ambiente úmido por semanas a meses
e podem sobreviver em
alimentos por até 48 horas a 20-25oC. Já os
trofozoítas
são rapidamente degradados no ambiente, além se serem
sensíveis ao pH ácido do
estômago. Portanto, os
cistos
são os principais responsáveis pela
manutenção da
transmissão da doença.
Riscos
A amebíase
é uma doença de
distribuição mundial, com maior prevalência em
países em desenvolvimento da América
Central, da América do Sul, África e Subcontinente
Indiano, onde a estrutura de
saneamento básica não é adequada. Estima-se
a ocorrência de cerca de 50 milhões de casos de
doença invasiva
por ano no mundo, resultando em pelo menos 100.000 óbitos. A
doença é mais
grave em crianças pequenas, gestantes, desnutridos e
indivíduos em
uso de corticóides em doses elevadas. No Brasil, a
amebíase não
é uma doença de notificação
compulsória, portanto nãoexistem estimativas razoavelmente
precisas
da real incidência da doença.
Medidas de
proteção individual
Ainda não existem vacinas contra
amebíase. As verduras
contaminadas servidas cruas (como alface) são as principais
fontes de
transmissão de
protozoários
entéricos. A contaminação dos alimentos,
como
frutas e verduras, pode ocorrer na origem (irrigação com
água contaminada) ou durante
o preparo (mãos contaminadas). Os indivíduos que se
dirigem para áreas
de alto risco de transmissão da doença ou que residem em
áreas endêmicas devem
adotar medidas de proteção contra doenças
transmitidas por
água
e alimentos. Além
do tratamento adequado da água de consumo e dos alimentos,
deve-se estar atento para
a possibilidade de contaminação dos alimentos
após o preparo,
através da
manipulação com mãos contaminadas.
Após a
defecação, para interrupção
da cadeia de transmissão da doença, é fundamental
a higiene adequada das mãos, com água e sabão ou,
alternativamente, com álcool-gel (??).
O tratamento adequado do esgoto e o controle
da água distribuída são fundamentais para reduzir
a incidência da doença. Estas medidas, embora essenciais,
dependem de investimento em saneamento básico que, em geral,
não constitui
prioridade dos governos nos países em desenvolvimento. No
Brasil, apenas 80%
dos domicílios têm rede geral de abastecimento de
água, 83% dispõem de coleta
de lixo e somente 48% têm rede coletora de esgoto. Mesmo
na Região Sudeste, onde
estão localizadas as cidades mais desenvolvidas, apenas 76% dos
domicílios têm
rede de esgoto
=> fontes e datas?. Nos
grandes
centros urbanos, é marcante a desigualdade do acesso a
serviços de saneamento,
com áreas com total infra-estrutura cercadas por bolsões
de pobrezas,
precariamente equipadas de serviços.
A eficácia da utilização de filtros para
tratamento da água
depende das características do filtro (que devem ser checadas
junto ao
fabricante) e do microorganismo. A susceptibilidade dos microorganismos
depende
basicamente do tamanho do agente infeccioso. Os filtros
portáteis removem os
cistos de protozoários e as bactérias, mas podem deixar
passar os vírus, que
são partículas menores que os poros da maioria dos
filtros. Portanto, os
filtros são úteis para a remoção dos cistos
de ameba, mas não devem ser usados
como a única forma de tratamento da água, pois não
são eficazes para a remoção
dos vírus entéricos.
A eficácia do tratamento
químico
da água
com compostos halogenados
(cloro ou iodo)
depende diretamente da concentração final da
substância e do tempo de contato.
Alguns fatores físico-químicos podem diminuir a
eficácia do tratamento químico,
como a temperatura baixa da água, a presença de material
orgânico e o pH. Em
geral, bactérias não formadoras de esporos
(exemplos?)
são bastante sensíveis aos compostos
halogenados, os vírus têm sensibilidade
intermediária
e os cistos de protozoários são mais resistentes. Os
oocistos de
Cryptosporidium
(agente causador de
diarréia,
principalmente em indivíduos
imunodeficientes)
não são inativados
pelas concentrações habitualmente utilizadas para
desinfecção da água. A
fervura da água por um minuto antes do consumo é a
alternativa mais segura para
o tratamento e deve ser o método de escolha quando a água
estiver turva. Entretanto
é um método pouco factível para ser utilizado
durante viagens. A água fervida pode
ser armazenada em um recipiente fechado por até 24 horas.
O
tratamento químico da água a ser utilizada como bebida ou
no preparo de alimentos pode ser feito com hipoclorito de
sódio a 2 - 2,5% (água sanitária) ou cloro em
comprimidos. A
Organização
Mundial da Saúde recomenda o
tratamento com 6 mg de cloro para cada litro de água. Quando
se utiliza um conta-gotas de 1ml = 20 gotas, 5 gotas
de hipoclorito de sódio a 2,5% contém 6 mg de cloro. O
tratamento com
comprimidos deve ser feito de acordo com as instruções
dos fabricantes,
observando-se cuidadosamente as recomendações em
relação à concentração
adequada para diferentes volumes e finalidades de
utilização da água. O cloro
(hipoclorito de sódio ou comprimidos) deve ser adicionado
à água no mínimo 30 minutos antes da sua
utilização como bebida ou para o preparo de alimentos. Em
recipientes fechados,
a água tratada com cloro pode ser utilizada até por 24
horas.
Para desinfecção da água também pode-se,
alternativamente, empregar tintura de iodo a 2% (5 a 10 gotas por
litro), que deve ser adicionada
à água no mínimo 30 minutos antes da
sua utilização como bebida ou para o preparo de
alimentos. O iodo é mais estável, pois reage menos com
compostos
orgânicos e sofre menos interferência da
variação do pH. Contudo, o iodo
ingerido com a água pode induzir mau funcionamento da
tireóide, particularmente
quando utilizado por longo período ou em
indivíduos predispostos. Desta forma, os compostos iodados
não devem ser
utilizados por tempo prolongado e estão absolutamente
contra-indicados em
gestantes e em todas as pessoas portadoras de doenças
tireoidianas.
Para desinfecção de frutas e verduras deve
ser utilizado 2 ml (40
gotas) de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de
água, ou comprimidos
de cloro na concentração indicada pelo fabricante. As
frutas e verduras devem
ser mantidas imersas por 30 minutos na água clorada. Em seguida
devem ser
lavados com água tratada com a concentração de
cloro adequada à sua utilização
como bebida.
=> compatibilizar com Doenças
Transmitidas por Água e Alimentos . Retirar o que
não for essencial.
Confirmação do
diagnóstico
A confirmação do
diagnóstico
de amebíase
intestinal
pode ser feita através de exame parasitológico de fezes
e, mais
recentemente, da pesquisa de antígenos fecais e, ainda
não disponível
como rotina em laboratórios
clínicos, a reação
em cadeia da polimerase
(PCR). A
investigação de diarréia em viajantes, quando a E. histolytica é
uma suspeita clínica, deve incluir a realização do
exame parasitológico
de fezes e a pesquisa de antígenos fecais (ou, eventualmente, a
realização da PCR).
Embora a pesquisa de
antígenos fecais e a PCR sejam sensíveis e
específicos para pesquisa de E. histolytica, a realização do exame
parasitológico de fezes permite
o diagnóstico de diferentes helmintos e enteroprotozoários
que também causam diarréia. O exame parasitológico tem,
quando realizadio em uma única amaostra, uma capacidade de
detecção (sensibilidade) relativamente baixa, pois
depende da presença dos parasitas na amostra examinada, o que
nem sempre acontece. Como a eliminação dos agentes
infecciosos muitas vezes é
intermitente, para aumentar a sensibilidade do exame, é
recomendada a coleta de pelo menos três amostras de fezes em dias
diferentes.
No caso da amebíase
intestinal, o exame
parasitológico de fezes permite que a maioria da amebas
não
patogênicas seja diferenciada através de
características morfológicas (E.
nana, E. coli, E. gingivalis, E.
hartmanni, E.
moshkovskii, E. polecki e I.
butschlii). No entanto,
deve-se considerar que não é possível a
diferenciação entre a Entamoeba
histolytica e a Entamoeba
díspar (que
também não é patogênica), pois a morfologia
destas duas espécies
é indistinguível. Em razão disto, quando houver
detecção de cistos morfologicamente compatíveis
com os da Entamoeba
histolytica, o resultado
deve ser liberado pelo laboratório como "presença de
cistos de Entamoeba
hystolica/díspar". A
interpretação do exame, naturalmente, depende da
avaliação clínica do paciente.
Manifestações
A infecção
intestinal por
E. histolytica
pode ou não resultar em doença. A maioria das
infecções é assintomática ou com
manifestações gastrointestinais inespecíficas
(não característica) e evolui para
resolução espontânea em até 18 meses, mesmo
sem tratamento
específico.
Nestes
casos, o diagnóstico só é feito ocasionalmente
durante a realização de exame de fezes. Entretanto,
estas pessoas podem permanecer por longos períodos eliminando os
cistos,
servindo como fonte de infecção para outros
indivíduos. Quando diagnosticadas,
mesmo quando não apresentam manifestações, estas
pessoas sempre devem ser tratadas.
As manifestações clínicas, em geral,
têm início insidioso e são caracterizadas por diarréia e dor abdominal. A
presença se sangue nas fezes é freqüente e,
às vezes, inaparente
a olho nu. A febre está presente em 30 % dos casos. Cerca de 10%
das pessoas infectadas evoluem com doença invasiva,
resultando, na maioria das fezes, em inflamação do
cólon e do reto (retocolite amebiana). Mais raramente podem ocorrer
manifestações como colite fulminante
com perfuração intestinal, dilatação do
cólon (megacolon
tóxico),
formação de massas intestinais (amebomas) e
colite
crônica. Além
disto, a E.
histolytica pode causar
doença em outros órgãos
como abscessos no fígado e, muito raramente, abscessos
pulmonares e
cerebrais. A colite fulminante e o megacolon
tóxico podem ser extremamente
graves, com alta letalidade.
Tratamento
O tratamento da amebíase
intestinal é
limitado
pela não disponibilidade de medicamentos para o tratamento mais adequado em diversos
países, inclusive no Brasil.
Os esquemas terapêuticos mais adequados devem incluir
medicamentos com atuação tecidual (que atuam nos tecidos)
associados a agentes com ação intraluminal (que atuam na luz
intestinal). Os medicamentos com ação tecidual tem como objetivo a
eliminação de trofozoítas
e os de
atuação intraluminal
visam os cistos. Os
medicamentos mais efetivos com
ação intraluminal
(como a
paromomicina, o iodoquinol e o furoato de diloxanide) não
estão
disponíveis no Brasil. Desta forma, uma parcela significativa
dos indivíduos
tratados apenas com metronidazol ou tinidazol (até 40%)
não ficam curados e podem permanecem
com manifestações clínicas, além de
continuarem eliminando os cistos nas fezes,
servindo de fonte de contaminação para o ambiente e de
infecção para outras pessoas
=
> incluir uma apreciação sobre as cicloracetamidas
(teclosan e etofamida) disponíveis no Brasil.
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