Universidade Federal do Rio de Janeiro
Cives
Centro de Informação em Saúde para Viajantes


Trombose venosa e viagens

Francisco Eduardo Cardoso Alves, Luciana G. F. Pedro & Fernando S. V. Martins 

A trombose venosa profunda (TVP) é uma doença causada pela formação de coágulos no interior das veias. Pode ocorrer durante ou após viagens, e está relacionada com a imobilidade prolongada e com fatores de risco do próprio viajante. O desprendimento destes coágulos pode resultar em embolia pulmonar, condição potencialmente fatal e que deve ser tratada o mais imediatamente possível. 

Riscos

A doença tromboembólica (trombose venosa profunda e embolia pulmonar) relacionada com imobilidade prolongada, foi descrita em Londres durante a II Guerra Mundial em pessoas que permaneciam sentadas por longos períodos de tempo em abrigos antiaéreos. Nos anos 50 foram registrados os primeiros episódios relacionados com viagens de avião e, na década de 70, com a popularização dos vôos internacionais, a doença passou a chamar a atenção notadamente pelos casos de embolia pulmonar que resultavam em mortes de passageiros, às vezes em pleno ar. Nos anos 90 passou-se a utilizar a expressão síndrome da classe econômica, numa alusão à freqüência deste tipo de evento em passageiros submetidos a uma exigüidade de espaço que dificultava a mobilidade durante as viagens aéreas. A expressão é, contudo, imprecisa, uma vez que a ocorrência de doença tromboembólica não é uma exclusividade dos passageiros da classe econômica. Além disto, a doença ocorre também em viajantes que utilizam outros meios de transporte (automóveis, ônibus, trens etc.).

A imobilidade prolongada durante uma viagem acontece quando uma pessoa permanece sentada, praticamente em uma mesma posição, durante horas seguidas, o que pode ser exacerbado pelo uso excessivo de sedativos ou de bebidas alcoólicas. Nestas circunstâncias, existe risco de trombose venosa profunda, uma vez que a compressão prolongada das veias dos membros inferiores (pernas e coxas) contra as bordas dos assentos dificulta a circulação do sangue e facilita a formação de coágulos. O risco de trombose venosa profunda é proporcional  ao período de imobilidade, sendo mais significativo quando a  duração da viagem é superior a cinco horas. Além disto, a doença é mais freqüente em viajantes que tenham fatores individuais de risco, como uso de anticoncepcionais, gestação, obesidade, idade superior a quarenta anos, infarto recente etc.

Ainda que não exista um estudo conclusivo, é inegável que algumas peculiaridades das viagens aéreas sugerem uma provável associação com doença tromboembólica, maior do que em outros meios de transporte. A freqüência das escalas durante uma viagem aérea, quando elas ocorrem, é ditada por motivos econômicos ou técnicos e, naturalmente, não obedece a um padrão regular. A disposição dos assentos, em múltiplas fileiras paralelas, inibe até eventuais idas ao toalete e, de resto, não é aconselhável, por motivos de segurança, que os passageiros fiquem andando durante o vôo, o que facilita a imobilidade prolongada. Além disto, o ambiente do interior das aeronaves, seco e com níveis baixos de pressão atmosférica e de oxigênio, favorece a desidratação, que é um dos fatores de risco para a doença tromboembólica.

O risco de doença tromboembólica é relativamente pequeno, considerando o número total de pessoas que viajam. Contudo, em razão da possível ocorrência de embolia pulmonar, que pode resultar em morte durante ou logo após uma viagem, é importante que sejam observadas medidas preventivas.

Medidas de prevenção

O risco de trombose venosa profunda, qualquer que seja o meio de transporte utilizado, pode ser reduzido por medidas simples, como não usar roupas apertadas e fazer pequenos exercícios durante a viagem, que devem ser observadas por todos os viajantes, com ou sem fatores individuais de risco.

O viajante deve ainda procurar utilizar meios de transporte com características favoráveis. Quando fizer a opção por uma empresa transportadora, por exemplo, deve incluir entre os critérios para a escolha o espaço disponível entre as poltronas. Em uma viagem de ônibus ou trem, deve procurar andar durante o intervalo das paradas. Em uma viagem de automóvel, para evitar restrição de movimentos, o número de passageiros e a bagagem devem estar de acordo com a capacidade do veículo. Além disto, periodicamente, devem ser programadas paradas em locais seguros, para que os ocupantes possam se movimentar fora do veículo.

Os viajantes com fatores individuais de risco devem reservar assentos no corredor ou próximo às saídas, para facilitar a realização de exercícios. Além disto, devem procurar aconselhamento médico antes da viagem, uma vez que poderá estar indicado o uso de medidas adicionais, como meias elásticas ou medicamentos (ambos têm contra-indicações). Quando o fator de risco for temporário, como acontece nas primeiras seis semanas após o parto, deve-se considerar o adiamento da viagem.

Manifestações  
Na maioria das vezes (até 60%) a trombose venosa profunda é assintomática. As manifestações, quando ocorrem, podem aparecer durante ou após a viagem, em geral até o terceiro dia, incluindo a embolia pulmonar. A trombose venosa profunda, em 90% das vezes, ocorre em apenas uma das pernas, mais comumente nas panturrilhas (“batata da perna”). Quando, no entanto, são acometidas as veias da coxa, existe um maior risco de embolia pulmonar. As manifestações mais comuns da trombose venosa profunda são a dor, a inchação (edema) e a vermelhidão (rubor) no local afetado (pernas, coxas, articulações). Quando presentes, pelo risco de embolia pulmonar, um médico deve ser procurado tão logo quanto possível. A embolia pulmonar acontece quando há desprendimento dos coágulos das veias, que sob a forma de êmbolos podem causar a obstrução de vasos arteriais dos pulmões. A embolia pulmonar produz falta de ar de início súbito, dor torácica, e nos casos mais graves, diminuição da pressão arterial e, por vezes, morte súbita.

Diponível em 10/03/2003, 11:07 h. Atualizado em 15/07/2010, 09:25 h.

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