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Centro de Informação em Saúde para Viajantes


Doenças Transmitidas por Insetos e Carrapatos

Fernando SV Martins, Luciana GF Pedro & Terezinha Marta PP Castiñeiras


As doenças transmitidas por artrópodes foram responsáveis por numerosas epidemias devastadoras (peste, tifo, malária, febre amarela) ao longo da história. Algumas destas doenças, como a malária, febre amarela e dengue  ainda constituem importantes problemas de saúde pública. As doenças transmitidas por artrópodes são, a cada ano, responsáveis por uma em cada 17 mortes no mundo. Estão entre os principais riscos para a saúde durante as viagens e podem ocorrer inclusive nos países mais desenvolvidos.

Os artrópodes hematófagos compreendem os insetos (6 patas na fase adulta) e os carrapatos (8 patas na fase adulta) que se alimentam de sangue. Podem ser vetores de infecções, por serem capazes de transmitir agentes infecciosos entre seres humanos ou entre animais e seres humanos. Estes artrópodes não servem apenas como meio de transporte mecânico, uma vez que neles ocorre, obrigatoriamente, parte do ciclo de desenvolvimento dos agentes infecciosos.

Existe uma relação estreita entre a dinâmica da transmissão de doenças e as características biológicas e ecológicas destes vetores. A longevidade (de dias a anos), a capacidade reprodutiva (de dezenas a milhares de novos insetos gerados por fêmea), as preferências alimentares (seres humanos, animais) e os hábitos (local e horário de maior atividade) destes vetores determinam a importância relativa do artrópode como transmissor de uma doença infecciosa e as peculiaridades da transmissão (maior durante o dia, ou à noite ou em determinadas épocas do ano). Variáveis ambientais como disponibilidade de água, chuvas, temperatura, umidade e altitude podem influenciar no ciclo dos agentes infecciosos nos artrópodes ou no desenvolvimento dos próprios vetores.

Insetos & doenças

Os insetos hematófagos em geral transmitem os agentes infecciosos por inoculação através da pele, durante a alimentação, diretamente no sangue, como ocorre com os mosquitos (malária, febre amarela, dengue, filariose, encefalite japonesa e febre do Nilo Ocidental), com os flebotomíneos (leishmaniose cutânea e visceral) e com a mosca tsé-tsé (doença do sono). Os triatomíneos (Doença de Chagas), contudo, transmitem o agente infeccioso quando defecam após a alimentação e a inoculação ocorre por contaminação de mucosas e de área de pele lesada com os resíduos fecais através do ato de coçar.

Algumas espécies de besouros não transmitem agentes infecciosos, mas podem causar doenças. Estas espécies de artrópodes não são hematófagas, mas produzem substâncias vesicantes (pederina, cantaridina) que causam lesões cutâneas (dermatite bolhosa) em seres humanos.

Doenças => Insetos


Carrapatos & doenças

Os carrapatos são artrópodes que, como as aranhas e escorpiões, pertencem à Classe dos aracnídeos. São parasitas obrigatórios que se aderem à superfície do corpo (ectoparasitas) dos vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos), e se alimentam exclusivamente de sangue. Podem permanecer fixados à pele dos hospedeiros por tempo prolongado (dias a semanas), secretando substâncias que impedem a coagulação sanguínea e diminuem a resposta inflamatória no local de fixação.

Os carrapatos têm distribuição mundial, existindo mais de 840 diferentes espécies, divididas em três famílias diferentes: Ixodidae, Argasidae e Nuttallidae. Cada espécie de carrapato possui um habitat próprio, o que determina a sua distribuição geográfica e, conseqüentemente, o risco de aquisição de doenças. As principais espécies de importância médico-veterinária pertencem às famílias Ixodidae e Argasidae.

O ciclo de vida dos carrapatos é constituído por quatro estágios diferentes: ovo, larva, ninfa e adulto. À exceção dos ovos, todos os estágios precisam de um hospedeiro para se alimentar e dar seqüência ao ciclo. Alguns carrapatos passam os diferentes estágios (larva, ninfa e adulto) em um único hospedeiro, e somente as fêmeas fertilizadas se desprendem para o ambiente. Outros necessitam de três hospedeiros para completar o ciclo, sendo que a muda (transformação de um estágio para outro) ocorre no ambiente, após o desprendimento do parasita ingurgitado de sangue. Para colocação dos ovos, as fêmeas fertilizadas se soltam do hospedeiro e procuram locais protegidos. De cada ovo nasce uma larva, iniciando-se um novo ciclo. A maioria dos carrapatos, quando está à procura de alimento, sobe na vegetação (caules, folhas ou galhos de pequenos arbustos) e aguarda a passagem de um hospedeiro. Outros vivem em ambientes restritos, como tocas, ninhos, cavernas, troncos de árvore e dependem do retorno do animal para se alimentar.

A infestação por carrapatos em uma determinada região, além de ser uma preocupação médica pela possibilidade de transmissão de doenças para seres humanos, é um problema veterinário importante, pois pode atingir animais domésticos (cão) e de importância econômica (gado), provocando expoliação sanguínea, transmissão de agentes infecciosos, inoculação de toxinas, diminuição do desenvolvimento ponderal e lesões no couro dos animais.

As doenças transmitidas por carrapatos afetam primariamente os animais (zoonoses) e os seres humanos são apenas eventualmente infectados, geralmente quando entram em contato com ambientes rurais (pastos) ou com animais durante atividades de recreação ou de trabalho (biólogos, veterinários, fazendeiros). Na maioria das vezes, os carrapatos causam apenas discreta reação inflamatória no local de fixação e prurido que podem durar até duas semanas, porém, eventualmente, pode haver transmissão de agentes infecciosos, como protozoários, bactérias e vírus.

Além disso, algumas espécies de carrapatos podem eliminar substâncias tóxicas que provocam reações alérgicas graves e paralisia. Mais de 40 espécies diferentes de carrapatos já foram relacionadas com o aparecimento de paralisia, que pode atingir tanto seres humanos como os animais. O quadro inicialmente é caracterizado por agitação, irritabilidade, dormência nos lábios, face e extremidades dos membros, evoluindo para fraqueza muscular generalizada. A retirada dos carrapatos, quando feita nos estágios iniciais da doença, pode reverter as manifestações clínicas.

Doenças => Carrapatos

  • Babesiose
  • Doença de Lyme
  • Ehrlichiose
  • Febre maculosa
  • Febre maculosa do Mediterrâneo
  • Febre hemorrágica Crimeia-Congo


Medidas de Proteção  => Doenças transmitidas por insetos e carrapatos
  • Não utilizar recursos sem comprovação da eficácia (vitaminas do complexo B, pílulas de alho) na profilaxia de qualquer doença transmitida por vetores.
  • Usar repelentes na pele à base de dietiltoluamida (DEET) ou picaridina (= icaridina), enquanto estiver ao ar livre. Lavar a pele, para retirar o repelente, quando for permanecer em locais fechados e protegidos contra insetos (ar-condicionado, telas protetoras contra mosquitos).
  • Antes de adquirir um repelente, certificar-se da concentração de DEET ou picaridina no produto. As concentrações não constam nas marcas mais conhecidas no mercado brasileiro.
  • Tomar cuidado para não aplicar repelentes (DEET ou picaridina) nos olhos, na boca ou em ferimentos. Não aplicar repelentes nas mãos de crianças pequenas, pelo risco de contato com olhos e boca.
  • Ler cuidadosamente as recomendações do fabricante do repelente. As concentrações de DEET habitualmente recomendadas são de 30% a 35% (máximo de 50%) e de 20% para a picaridina.
  • Procurar hospedar-se em locais que disponham de ar-condicionado. Se isto não for possível, utilizar “mosquiteiros” impregnados com permetrina (mantém-se efetivo durante vários meses) e inseticida em aerossol nos locais fechados onde for dormir (em hipótese alguma empregar inseticidas na pele). Os "mosquiteiros" também podem ser úteis na proteção contra triatomíneos ("barbeiros", transmissores da Doença de Chagas) e morcegos (transmissores da raiva).
  • Usar calças e camisas de manga comprida sempre que possível (sempre as condições locais de temperatura e umidade permitirem), para reduzir a área corporal exposta às picadas de insetos. Usar repelentes na roupa à base de permetrina ou deltametrina.
  • Em regiões infestadas por carrapatos, usar roupas claras e impregnadas com permetrina. Prender a barra da calça nas botas com fita adesiva.Utilizar repelentes (DEET ou picaridina) nas áreas corporais expostas.
  • Examinar o corpo pelo menos a cada três horas a procura de carrapatos e retirá-los cuidadosamente com o auxílio de uma pinça ou luva.
  • Certificar-se ainda, através da consulta médica, da necessidade de quimioprofilaxia para malária que, caso indicada, deverá ser prescrita pelo médico.
  • Certificar-se da necessidade da vacina contra a febre amarela (validade de 10 anos, a partir do décimo dia da aplicação inicial) e de obter o Certificado Internacional de Vacinação (emitido pelos Postos da Anvisa).
  • Certificar-se da necessidade eventual (dependendo do roteiro, do tipo de atividade e tempo de permanência) da vacina contra a encefalite japonesa (não disponível no Brasil).

Disponível em 25/10/2008, 01:07 h.

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