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Centro de Informação em Saúde para Viajantes |
A sífilis (lues) é uma doença
crônica, sexualmente
transmissível,
causada por uma bactéria - Treponema pallidum.
Cerca de três semanas após a infecção,
geralmente na região
genital, surge uma lesão ulcerada
indolor na
pele ou mucosa, que desaparece mesmo
sem tratamento. No entanto, quando
a doença não é tratada, pode ocorrer
disseminação do T.
pallidum através da circulação
sanguínea, levando ao acometimento de vários
órgãos, inicialmente sem manifestações
clínicas.
Transmissão
A sífilis é transmitida
de uma pessoa para outra através do contato direto com
lesões sifilíticas infectantes, geralmente, durante
relações sexuais. As lesões da sífilis primária e
secundária são altamente infectantes e estima-se que a
transmissão ocorra em aproximadamente um terço dos
indivíduos expostos a estas lesões. O
risco de
transmissão sexual é maior nos estágios
iniciais da doença, com redução gradual ao longo
do tempo. Uma pessoa infectada
pode transmitir a doença para outra sem saber, pois muitas vezes
a lesão
inicial não é percebida e o diagnóstico não
é feito. Por óbvio, uma pessoa que contraiu sífilis também ficou
exposta ao risco de aquisição de outras doenças sexualmente
transmissíveis (Aids, hepatite
B etc.). A sífilis também pode
ser transmitida pelo beijo quando há lesão ativa na
cavidade oral ou através de sexo oral.
A aquisição de sífilis pode ocorrer ainda através da placenta durante a gestação (sífilis congênita), ou, mais raramente, por transfusão de sangue contaminado. Atualmente a transmissão de sífilis através de transfisão de sangue é extremamente incomum nos locais onde é realizada a testagem sistemática nos doadores de sangue. Além disto, T. pallidum não consegue sobreviver por mais de 24-48 horas nas condições ideais de estocagem do sangue utilizadas nos bancos de sangue. A sífilis não pode ser transmitida através do contacto com assentos de vasos sanitários, piscinas, banheiras, roupas, utensílios domésticos (garfos, colheres, facas etc.).
Riscos
A sífilis
tem
distribuição global com cerca de 12
milhões de
casos novos por ano no
mundo, mais de 90% ocorrem em países em desenvolvimento. Os riscos de aquisição de síflis, embora sejam maiores
nos
países em desenvolvimento, existem
em todo o mundo, principalmente onde a
prática do turismo sexual é comum. O Sul e Sudeste Asiático
são as
regiões com maior número de casos registrados, seguidos
pela África
sub-Saariana.
Durante viagens, a prática de atividades sexuais desprotegidas é mais freqüente. O risco de aquisição das doenças sexualmente transmissíveis (DST) depende exclusivamente do comportamento do viajante. Até 50% dos viajantes referem contato sexual durante viagens e esta proporção é ainda maior nas viagens de longa duração. A sensação de anonimato e o uso de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas podem diminuir a capacidade de julgamento do indivíduo, facilitando a prática desprotegida de atividades sexuais com parceiros (homens ou mulheres) de maior risco, como os profissionais do sexo.
Medidas de
proteção
A prevenção da sífilis congênita depende do diagnóstico e tratamento adequado da infecção em mulheres grávidas. Todas as grávidas devem ser submetidas à triagem sorológica para sífilis na primeira consulta pré-natal e, em áreas onde a prevalência da infecção é alta, também na 28 semana de gestação e no pós parto imediato. Todas as gestante com diagnóstico de sífilis devem ser tratadas para evitar a transmissão da doença para o concepto.
A sífilis é uma doença de
evolução lenta e, quando não tratada, pode
permanecer assintomática e
continuar
evoluindo por meses ou anos. De
acordo com o tempo de evolução da doença e a
presença de manifestações clínicas, a
sífilis pode ser classificada em primária,
secundária, latente e terciária.
Sífilis
primária
Após a
infecção, entre 3 e 90 dias (em média,
três semanas) surge uma pápula (lesão elevada e
arredondada) no local da inoculação do T. pallidum, que evolui em pouco
tempo para ulceração indolor, geralmente única, de
1 a 2 cm de diâmetro, com bordas elevadas, na pele ou
mucosas (genital, lábios, boca) que caracteriza a sífilis
primária. A lesão
ulcerada (cancro) permanece por três a seis semanas e
desaparece mesmo sem
tratamento, o que não significa que a doença foi curada. Quando
a sífilis primária não é
tratada pode ocorrer disseminação de T.
pallidum através da circulação
sanguínea e a doença continua a evoluir, embora a pessoa
não apresente qualquer manifestação.
Sífilis secundária
Semanas
ou poucos meses após a sífilis
primária, cerca de
25% dos indivíduos não tratados desenvolvem a sífilis
secundária, que
é uma doença sistêmica cuja
manifestação mais
comum é o aparecimento de exantema cutâneo
(manchas
avermelhadas) disseminado, que pode ser observado inclusive nas
mãos (palmas) e nos pés (plantas).
O acometimento cutâneo geralmente
está associado à
febre
baixa, dor no corpo, dor de garganta, perda do apetite, emagrecimento,
dor
articular e aumento generalizado dos gânglios. Pacientes com sífilis
secundária podem ou
não ter história de lesão ulcerada inicial, pois o
cancro pode ter passado desapercebido por ser indolor ou se localizar
em regiões de difícial visualização (anus,
parte interna da vagina). Em alguns casos, a sífilis secundária
ocorre quando o cancro ainda está presente, o que é mais
comum em pacientes infectados pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV). Placas acinzentadas (condiloma
lata) podem surgir em áreas úmidas, como a cavidade oral
e região genital, em pacientes com sífilis secundária. Estas
lesões possuem uma grande quantidade de microorganismos e
são altamente infectantes.
Sífilis
latente
A sífilis
latente se refere a um período no qual o paciente encontra-se
infectado pelo T. pallidum, mas não apresenta qualquer
manifestação clínica. Nestes casos o
diagnóstico só é possível através de
exames sorológicos.
Sífilis
terciária
Sem tratamento, a
doença pode continuar
evoluindo, apesar da regressão das manifestações
clínicas iniciais.
Em estágios
mais avançados, pode
haver o comprometimento cardíaco, neurológico e da pele
ou tecido
subcutâneo (goma sifilítica), o que caracteriza a sífilis
terciária. As manifestações da sífilis
terciária podem
ocorrer de um até trinta anos após a
infecção inicial. Cerca de
25 a 40% dos pacientes com sífilis
não tratada evoluem
para sífilis
terciária. O
comprometimento cardíaco mais característico da sífilis é a
dilatação da porção ascendente da aorta
(aneurisma da aorta) e o mal funcionamento de uma das vávulas
cardíacas (a válvula aórtica), resultanto em
insuficiência cardíaca de instalação
insidiosa. A sífilis
terciária com envolvimento do sistema nervoso central
pode resultar em demência (quando acomete o cérebro) ou em
dificuldade de equilíbrio para deambular (quando há o
comprometimento da medula). A goma sifilítica, raramente
observada nos dias de hoje, são lesões que podem surgir
tanto na pele como nos ossos e órgãos. Na pele, a goma
pode se apresentar como uma lesão ulcerada ou elevada, de
tamanho variado.
Durante a gravidez, a sífilis
materna sem tratamento pode resultar em abortamento, parto prematuro,
recém-nascido com sinais clínicos de sífilis congênita ou, mais freqüentemente, no
nascimento de uma criança
aparentemente saudável que desenvolve
manifestações posteriormente. A transmissão da
mãe
para o concepto pode ocorrer em qualquer período da
gestação e em qualquer estágio da doença,
sendo mais frequente em gestantes com sífilis
primária ou secundária.
Mas mesmo nos casos de sífilis
assintomática, a transmissão ocorre em até 40% das
gestações quando a infecção foi adquirida
há menos de 1 ano e em até 10 % nos casos de sífilis terciária. A
morte intra-uterina ocorre em
até 25% dos fetos acometidos, com uma mortalidade adicional de
25 a 30% no período periparto, quando não são
tratados. Dos recém-nascidos com sífilis que sobrevivem,
cerca de 2/3 são assintomáticos. As
manifestações clínicas podem surgir precocemente
(até 2 anos de idade) ou posteriormente. Lesões
cutâneas com acometimento de palmas e plantas, icterícia
(olhos amarelado), anemia e aumento do baço e do fígado
são manifestações comuns e que ocorrem
precocemente, em geral nas primeiras 5 semanas de vida. Após
dois anos de idade, a criança pode apresentar deformidades
ósseas (em face), alterações dentárias,
cegueira e surdez. As manifestações tardias podem ser
prevenidas se o recém-nascido for tratado até os
três primeiros meses de vida.
T. pallidum é uma
bactéria que
não é cultivável em laboratório, portanto o
diagnóstico de sífilis
geralmente se baseia na
visualização direta do microorganismo em material
clínico (por exemplo, raspado de lesões ulceradas) ou,
mais comumente, em exames sorológicos. Para a
visualização direta do treponema é
necessário equipamento apropriado (microscópio de campo
escuro) e pessoal técnico qualificado, o que limita a
realização deste método diagnóstico a
alguns laboratórios de referência. Os exames
sorológicos são métodos indiretos que dependem da
produção de anticorpos em resposta à
infecção. Portanto nos estágios iniciais da
doença, uma sorologia não reativa não descarta a
possibilidade de sífilis.
Cerca de 30% dos pacientes com sífilis
primária, em vigência de lesões ulceradas,
têm sorologia não reativa, pois ainda não
desenvolveram anticorpos.
A triagem
sorológica é
comumente feita com a relização do VDRL (Venereal
Disease Research Laboratories). Quando o VDRL é reativo,
é recomendável a realização de um outro
método sorológico para a confirmação do
diagnóstico, pois em algumas situações o VDRL pode
ter um resultado falso positivo (doenças febris agudas,
tuberculose, gestação, doenças hepáticas
crônicas, neoplasias em estágios avançados, lupus
eritematoso sistêmico, entre outras). O resultado dos
exames reativos do VDRL é expresso em títulos de
anticorpos (1/4, 1/16,
1/32...) e pode ser utilizado para o acompanhamento da resposta ao
tratamento.
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